Formol em alisantes de cabelo: por que não há um limite seguro?

Dra. Maria Inês Harris, especialista na avaliação de segurança de cosméticos, explica as razões para a proibição do uso da substância em procedimentos de beleza e comenta que existem locais que ainda a utilizam.

O uso do formol (formaldeído) nos salões de beleza, especialmente em alguns procedimentos de alisamento dos cabelos, é uma discussão ainda presente, que impacta diretamente a saúde dos profissionais e clientes. Isso porque não existe uma quantidade mínima segura para a incorporação da substância na fórmula dos produtos cosméticos. Ainda assim, pelo Brasil afora, há estabelecimentos que ignoram os riscos e seguem utilizando produtos que contém esta substância.

O formol é considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Pesquisa realizada em 2018 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) revela que o formol ainda é utilizado profissionalmente em quantidades acima do limite estabelecido pela Agência (RDC 15/2013). Atualmente, é permitido até 0,2% na composição total de produtos para cabelos e até 5% em fortalecedores de unhas. Outro dado apontado pelo levantamento é que o teor excessivo de formol pode estar presente no produto desde seu processo de fabricação, ou ser adicionado aos produtos dentro dos salões de beleza.

“Produtos alisantes de cabelo vêm sendo adulterados em indústrias e salões com a adição do formol, o que é proibido e pode resultar em ações drásticas da ANVISA. As consequências no curto prazo desse uso imprudente para a população e, principalmente, para os profissionais expostos continuamente, são problemas de pele como irritações oculares e no couro cabeludo, lesões profundas ou descamativas, queda de cabelo, entre outras”, afirma a Dra. Maria Inês Harris,  Diretora Executiva do Instituto Harris, referência em avaliação da segurança dos ingredientes e produtos cosméticos. Segundo a especialista, quando aspirado, o formol ainda pode causar desconforto nas narinas, com ocorrência de coriza, tosse, dores de cabeça e até sensação de sufocamento.

“No longo prazo, os efeitos podem ser ainda mais dramáticos, como cegueira, comprometimento das vias aéreas, levando à pneumonia e câncer”, a Dra. Harris complementa.

Uma das justificativas para o uso indiscriminado do composto é o fato de o percentual da substância preconizado pela ANVISA não ser comercialmente vantajoso, uma vez que não tem potencial alisante e apenas conserva a fórmula.

“Em proporção de 0,2%, o composto não é suficiente para alisar os cabelos. Ele simplesmente ajuda a garantir maior durabilidade ao produto no qual foi acrescentado, razão pela qual infelizmente ainda não houve o abandono total do uso. Acrescento que ainda com níveis relativamente baixos, o risco e a toxicidade permanecem, principalmente entre os profissionais, uma vez que ficam expostos por mais tempo”, explica a Dra. Harris.

O trabalho realizado pela ANVISA ainda apontou que a grande quantidade de estabelecimentos de beleza no país é um desafio para o controle e diminuição do uso de formol em alisamentos. Segundo o relatório, medidas socioeducativas adotadas pelas Vigilâncias Sanitárias, como palestras, panfletos e orientações no momento da inspeção, colaboram para a redução do uso irregular da substância nos salões.

Sobre a Dra. Maria Inês Harris

Diretora Executiva do Instituto Harris, a Dra. Maria Inês Harris é Química, com Ph.D. em Química (UNICAMP) e Pós-Doutorado em Toxicologia Celular e Molecular de Radicais Livres (UNICAMP) e em Lesões de Ácidos Nucleicos (CNRS, França) e é certificada no curso “Avaliação da Segurança dos Cosméticos na UE” (Universidade de Bruxelas, Bélgica). Atuou como gerente técnica de Pesquisa Clínica na Allergisa Pesquisa Dermatocosmética, gerente de segurança de produtos da Natura e especialista em métodos HPLC (High Performance Liquid Chromatography) na Alcon Laboratórios. Também foi professora do Curso de Especialização em Cosmetologia das Faculdades Oswaldo Cruz (São Paulo) por 19 anos e coordenadora de Pesquisa Institucional da Universidade Bandeirantes (atual Anhanguera) no Brasil. É autora dos livros “Pele – Estrutura, Propriedades e Envelhecimento” e “Pele – do Nascimento à Maturidade”.

Sobre o Instituto Harris

Exclusivamente voltado à avaliação de segurança dos ingredientes e produtos cosméticos – desde seu desenvolvimento até a produção –, assim como à consultoria científica e aos programas de treinamento e capacitação profissional relacionados às Boas Práticas da Fabricação (BPF), o Instituto Harris é referência em serviços de avaliação de riscos. Sua equipe experiente oferece suporte às atividades de criação de ativos e de produtos cosméticos desenvolvidos sob os mais altos critérios de segurança, sem o uso de testes em animais, para empresas nacionais e internacionais.

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